quarta-feira, 19 de agosto de 2009

30 anos do bebê de proveta

Os 30 anos do bebê de provetaCláudia Collucci Especial para o Correio
A reprodução assistida pode cair no vestibular. Mais de 1 milhão de bebês já nasceram por essa técnica
Em 2008 foram comemorados os 30 anos do nascimento da inglesa Louise Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo. De lá para cá, mais de 1 milhão de crianças já nasceram por meio da fertilização in vitro, uma das técnicas de reprodução assistida mais utilizada nos casos de infertilidade. Amplamente abordado pela mídia, com séries de televisão, reportagens em jornais e programas nas rádios de todo o país, o tema reprodução assistida chegou às salas de aula de escolas secundaristas por ser um dos possíveis assuntos a serem lembrados no vestibular. Mas, afinal, o que é reprodução assistida? Para que ela serve? A reprodução assistida é a possibilidade de gerar vidas com o uso de técnicas de laboratório. É como se fosse uma “ajuda” dada pelos médicos em alguma etapa do processo reprodutivo que, por estar comprometido, não permitiu que a mulher engravidasse pelos meios naturais, ou seja, durante uma relação sexual. Por exemplo: se a mulher tiver as trompas obstruídas, dificilmente engravidará naturalmente. Nesse caso, o óvulo pode ser fertilizado com o espermatozóide no laboratório, e o embrião transferido diretamente para o útero, dando início à gestação. O problema de infertilidade pode estar no homem ou na mulher. Estima-se uma probabilidade de 35% de a causa estar no homem, 35% na mulher e 30% por uma incompatibilidade entre os dois, ou uma conjunção de fatores. Dentro da reprodução assistida há diversas técnicas que são utilizadas de acordo com o caso. O importante é a realização de um bom diagnóstico pelo médico. Nesses 30 anos, as técnicas utilizadas foram evoluindo, outras surgindo e o sucesso dos tratamentos alcançando taxas cada dia maiores. Em 1978, por exemplo, o índice de sucesso em uma fertilização in vitro era de 7%. Em menos de dois anos, em 1980, este mesmo número subiu para 13% e chega, hoje, a até 60% dos casos. Em 1990, uma outra descoberta deu grande avanço às técnicas. Cientistas belgas desenvolveram a injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI). Com ela, um único espermatozóide pode ser injetado diretamente no óvulo. Essa técnica ajuda especialmente homens com baixa produção de espermatozóides. Hoje, já é possível congelar espermatozóides e embriões para usá-los em uma gestação futura. Também é possível identificar eventuais problemas genéticos no embrião antes mesmo de sua implantação no útero, ou realizar técnicas como lavagem de esperma, por meio da qual homens com HIV positivo podem ter filhos livres do vírus. A grande expectativa dos médicos agora é com o congelamento de óvulos, que vai permitir, por exemplo, que mulheres jovens congelem seus gametas para quando decidirem engravidar. Atualmente, uma das causas mais comuns de infertilidade feminina é a gravidez tardia. A partir dos 37 anos, a qualidade dos óvulos da mulher cai drasticamente, o que dificulta a gravidez. Mulheres com câncer submetidas a quimio e radioterapia - tratamentos que levam à infertilidade - também poderão congelar seus óvulos para tentarem uma gravidez depois que estiverem curadas da doença. As principais técnicas utilizadas no mundo inteiro para reprodução humana são: Indução de ovulação A mulher toma comprimidos e injeções de hormônios para estimular o ovário a produzir mais óvulos e aumentar a chance de que um seja fecundado durante a relação sexual. Inseminação artificial Após a indução da ovulação na mulher, o médico seleciona os melhores espermatozóides do parceiro e os transferem para dentro do útero, através de um cateter. Doação de óvulo O óvulo de uma doadora mais jovem é fecundado em laboratório com o espermatozóide do parceiro e o embrião resultante é colocado no útero da mulher, que gestará um filho sem sua carga genética. Fertilização in vitro (FIV) Após a indução de ovulação, os óvulos da mulher são retirados por meio de uma agulha inserida na vagina. Em laboratório, eles são fecundados e, três a cinco dias depois, de um a três embriões são transferidos para o útero através de um cateter. ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozóides) É uma técnica variante da FIV. Após a indução de ovulação na mulher, os óvulos são aspirados e cada um recebe uma injeção que contém um único espermatozóide. De uma maneira geral, o aprimoramento das técnicas levou a reprodução assistida a se tornar um mercado rentável e, muitas vezes, o seu uso é banalizado. Por isso, é fundamental que os casais sejam criteriosos na escolha do profissional que os acompanhar á no tratamento. A indicação de uma fertiliza ção in vitro - que custa, em média, R$ 12 mil por tentativa - deve ser a última etapa do processo, nunca a primeira. É preciso que todos os fatores de infertilidade do casal, inclusive os emocionais, sejam amplamente investigados e, se possível, corrigidos para que a gravidez ocorra naturalmente. No nosso entendimento, essa deveria ser a postura a ser adotada por todo profissional que se paute pela ética e pela seriedade. As técnicas de reprodução assistida foram criadas com o intuito de ajudar a natureza na tarefa de gerar vidas, jamais devem ser usadas com a intenção de substitui-la nesse papel. CLÁUDIA COLLUCCI É JORNALISTA, MESTRE EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA E AUTORA DO LIVRO POR QUE A GRAVIDEZ NÃO VEM?, DA EDITORA ATHENEU. MATÉRIA PUBLICADA ORIGINALMENTE EM 11 DE NOVEMBRO DE 2003

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